Professor de literatura ensina como incentivar crianças e adolescentes a gostar de livros
Celebrado em 23 de abril, o Dia Internacional do Livro é uma data que nos leva a refletir sobre os hábitos de leitura. Apesar de ser muito importante para o desenvolvimento infantil e juvenil, nem sempre é fácil influenciar jovens a criar gosto por livros, o que faz com que pais e professores acabem buscando alternativas para despertar tal interesse.
Números têm indicado queda de obras lidas por crianças e adolescentes. A última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pela Fundação Pró-Livro, Itaú Cultura e IBOPE Inteligência, mostra que 44% da população não lê e que 31% nunca comprou um livro.
Segundo levantamento recente feito pelo IPL (Instituto Pró-Livro) em parceria com a Abrelivros, a Câmara Brasileira de Livros e o Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), a primeira faixa etária (crianças entre 5 e 10 anos) é o perfil com maior frequência de leitura, correspondendo a 23% de toda a população com hábito frequente.
Mas qual é o segredo para chamar a atenção desse público e tornar crianças e jovens apaixonados por livros? “No mundo digital de hoje, em que tudo acontece de forma muito acelerada, pode ser difícil fazer com que a criança ou o jovem se sente e se concentre por 20 ou 30 minutos para ler“, avalia o professor de literatura Alencar Schueroff, docente da Plataforma Professor Ferretto.
No entanto, na visão do professor, nem tudo está perdido e é possível, sim, ajudar o público mais jovem a adotar o hábito de ler seguindo algumas dicas simples. Confira!
Ainda que crianças e jovens venham passando mais tempo à frente de celulares, tablets e computadores, essas ferramentas podem ser usadas a favor da leitura. “Os eletrônicos podem ser o pontapé inicial para o interesse pela leitura. Para minha surpresa, tenho mais de 40 mil seguidores no meu Instagram, onde falo sobre literatura e tento levar esse universo aos alunos. E, na internet, há materiais para facilitar o acesso aos livros”, revela o professor.
No entanto, Alencar ressalta que, embora a internet tenha, em muitos casos, facilitado o acesso a livros – em parte pelos e-books, os livros eletrônicos, que são fáceis de carregar – esses dispositivos, mas não substituem as obras impressas, que são aliados da leitura. “A experiência de folhear o livro é difícil de substituir, é algo mais pessoal e que cria proximidade com a ideia de ler”, comenta o professor.
Outra dica do professor é utilizar os gibis – como são popularmente chamadas as histórias em quadrinhos – também como porta de entrada para a literatura. “Eu mesmo, por exemplo, comecei lendo histórias em quadrinhos e daí passei a me interessar pelo mundo das palavras”, conta Alencar.
De acordo com Retratos da Leitura no Brasil, os quadrinhos figuram entre os estilos literários preferidos entre as crianças e os pré-adolescentes. “Isso permite que clássicos sejam adaptados para o estilo e lidos mais facilmente”, sugere ele.
Jovens não costumam gostar de ler livros extensos com uma linguagem distante da atual. No caso do autor brasileiro Machado de Assis – frequentemente citado entre autores clássicos obrigatórios, por exemplo -, pode-se começar por uma obra mais curta de duas ou três páginas, em vez de já começar com o livro “Quincas Borba”.
“Isso é importante para que o aluno conheça o estilo daquele autor e, aos poucos, vá se acostumando com ele e se inserindo naquele universo. É claro que a linguagem muda ao longo dos anos, mas há, sim, diversas leituras clássicas que podem ser apreciadas por crianças e adolescentes”, afirma Alencar.
Identificar uma leitura de nicho, algum tema que dialogue com o público, também pode ajudar bastante. “Podem ser os livros da série Harry Potter, por exemplo, ou qualquer outro que chame a atenção da criança ou jovem”, traz o profissional.
Isso porque, ao indicar ou apresentar livros que não vão ao encontro da maturidade de determinada turma de alunos, a escola ou os pais os afasta da literatura. “Contos, livros de poesia, ficção e aventura costumam ter grande apelo entre os leitores mais jovens”, recomenda o professor.
Ler por exigência escolar muitas vezes é a maior motivação das crianças e adolescentes para abrir e ler um livro até o final. Mas, em vez de aplicar uma prova nos moldes tradicionais, pode-se optar por avaliações em grupos ou debates interpretativos do que foi lido, no modelo de saraus.
“Pedir que os alunos leiam uma determinada obra e depois dividam sua opinião com os colegas, dando chance para que discutam ideias e pensem sobre o que leram costuma funcionar bem e ajuda a compreender melhor o livro em questão”, ensina Alencar.
Tanto os professores quanto os pais devem dar o exemplo, não somente falando para que as crianças leiam e apresentandolivros, como elas mesmas inserindo o hábito de ler em suas rotinas. “Estar sempre com a leitura em dia ou mostrar que está lendo algo influencia mais as crianças do que simplesmente pedir que elas leiam”, conclui o professor de literatura.
Por Julia Calanca