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Entretenimento / Pantera Negra

Pantera Negra 2: Como a luta entre Talocan e Wakanda se conecta com o mundo real? Djamila Ribeiro explica

O conflito entre as duas nações de ‘Pantera Negra: Wakanda Para Sempre’ também pode ser visto fora das telas; descubra!

Izabela Queiroz Publicado em 11/11/2022, às 11h00

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Cena de ‘Pantera Negra: Wakanda Para Sempre’ - Reprodução/ Disney/ Marvel
Cena de ‘Pantera Negra: Wakanda Para Sempre’ - Reprodução/ Disney/ Marvel

Pantera Negra: Wakanda Para Sempre’ chegou aos cinemas na última quinta-feira, 10, apresentando não só o novo protetor de Wakanda, mas também, incluindo um novo anti-herói ao Universo Cinematográfico Marvel: Namor, o príncipe de Talocan. Relembre o trailer!

A história, que entre diversas reviravoltas apresenta o conflito entre essas duas nações fictícias distintas, mostra também conexões tanto entre elas, quanto com a realidade em que vivemos, destacando conflitos que existem na humanidade a séculos e que também podem ser vistos nas terras tupiniquins. Ficou confuso? A Recreio explica!

[SPOILERS DE ‘WAKANDA PARA SEMPRE’ ABAIXO]

Um breve contexto

Na sequência de ‘Pantera Negra’, Talocan é apresentada como a Atlantis dos quadrinhos, ou seja, a sociedade submersa que vive sob os comandos de Namor, o príncipe que tem conexão com a poderosa divindade conhecida como Kukulkan.

A trama cria uma conexão entre Talocan e Wakanda, ao mostrar que a civilização que vive nas profundezas do oceano também está sendo ameaçada pelas demais nações por conter o poderoso metal que é tão utilizado pelos Wakandanos: Vibranium.

Apesar de as duas sociedades serem vítimas dos exploradores, elas não se unem de início, já que após uma série de eventos, Talocan se revolta e decide atacar Wakanda, levando caos, destruição e mortes ao rico território da África, que só chegam ao fim, quando as duas civilizações entendem que elas lutam pela mesma causa.

Conexões com o mundo real

Talocan
Namor, personagem de Tenoch Huerta / Crédito: Reprodução/ Disney/ Marvel

Pensando nisso, a influenciadora e embaixadora de ‘Wakanda para Sempre’, Djamila Ribeiro, revelou em um bate-papo destinado à imprensa logo após a primeira exibição do segundo filme da franquia, como a retratação dos dois povos reflete a realidade.

Foge de uma visão maniqueísta, né? De povo bom, povo ruim. As guerras, essas lutas elas fazem parte da história, né? De povos que lutavam contra outros povos, mas quando a colonização vem aí a gente acaba tendo um inimigo em comum.”

A ativista também destaca a possível alusão a conquista do império asteca durante a colonização espanhola da América, abordada em certo momento do filme, mostrando como os processos apresentados na obra de Ryan Coogler, se relacionam com os vistos no Brasil e com os povos africanos:

Acho muito legal de mostrar ali no México os espanhóis chegando e ele falando que eles impuseram uma língua, mataram as pessoas. Foi o que aconteceu nos outros países, nos países africanos onde existiram a colonização, foi o que aconteceu no Brasil.  Isso é muito legal, ampliar a nossa visão, mostrando que a gente não tem que ser inimigo um do outro, de que a gente precisa entender como se dão esses processos de colonização. Claro que os contextos são diferentes, mas esses processos têm em comum a violência, o saqueamento, a imposição de outra cultura, tem muitas coisas em comum ali em relação ao que os povos africanos sofreram. “

Aproximando mais ainda o discurso do filme com a realidade brasileira, Djamila traz o debate sobre a questão política dos territórios distintos para a pluralidade das culturas nacionais e o preconceito visto dentro do nosso próprio país:

A gente está num momento no Brasil que é muito importante a gente pensar na importância do respeito aos territórios distintos. A gente sabe que, no Brasil, o sudeste tem esse preconceito com o nordeste, o quanto a gente como brasileiro não percebe que o quanto que a gente fica reproduzindo lógicas de opressão dentro do nosso contexto em relação aos povos indígenas. A gente não olha pra isso. A gente está olhando ali o povo da Riviera Maia e os nossos indígenas também que tem saberes ancestrais que são povos que estão resistindo historicamente no aqui no Brasil. São mais de trezentas etnias indígenas no Brasil e se a gente perguntar o nome de cinco, provavelmente as pessoas não sabem falar, por que a gente não conhece.”

Além disso, ela destaca que as relações vistas em Talocan e Wakanda estão presentes também no sudeste e nordeste brasileiro:

Então traz elementos pra gente pensar sobre o nosso próprio território que o Brasil, são vários Brasis e a gente encontrar esse ponto em comum pra unir esses Brasis e que não é reproduzindo essas lógicas colonizadoras, porque, a gente inventa o Nordeste, né? O que é o Nordeste? Piauí, Maranhão... são estados radicalmente diferentes entre si e a gente fala ‘o nordeste’, né? Mas quando pergunta da onde é a gente fala 'eu sou de São Paulo'. A gente não fala eu sou do sudeste, eu sou sudestina, mas eu falo 'fulano é nordestino'. Então a gente não para pra pensar nisso. Acho que pra gente pensar o nosso contexto esse filme traz muitos elementos. A gente precisa valorizar as diferenças. As diferenças não são ruins. Elas só são ruins quando significam desigualdades.”

Ainda assim, em outro momento da conversa, Djamila ressaltou o quanto a união de Talokan e Wakanda foi importante ser apresentada nas telas para afetar outros âmbitos:

Mas eu acho que essa aliança entre os povos americanos e os povos negros foi algo que me tocou profundamente, por que isso dialoga muito com o que muito dos das autoras que eu venho estudando, que dizem que a gente precisa ampliar mesmo e que a nossa luta é uma luta que diz respeito a muitos povos, né? E pra gente não se confundir nessa luta pra gente não se tratar como inimigo. Pra gente respeitar as nossas diferenças e nos aliar ao que verdadeiramente importa".