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Corpo Humano / Saúde

7 milhões de crianças brasileiras sofrem de obesidade, afirma pesquisa

A obesidade infantil se tornou um dos maiores problemas de saúde pública pediátrica no mundo

Redação Publicado em 18/06/2022, às 11h58

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Imagem ilustrativa de pessoas comendo fast food - Pixabay
Imagem ilustrativa de pessoas comendo fast food - Pixabay

O Brasil passou por um fenômeno interessante nos últimos 50 anos em se tratando de nutrição infantil. O país saiu de um quadro onde a desnutrição era o maior desafio familiar para um momento em que o excesso de peso extrapola aquela antiga associação de crianças gordinhas à saúde e se junta ao cenário pandêmico mundial da Obesidade Infantil.

De acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), uma pesquisa realizada em 2019 indicou que 16,33% das crianças brasileiras entre 5 e 10 anos se enquadram na categoria de obesidade, definida pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

“Só no Brasil estima-se que quase 7 milhões de crianças apresentam excesso de peso e segundo o Ministério da Saúde viu-se que uma em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos está com o peso acima do ideal: são 7% com sobrepeso e 3% já com obesidade”, relata a nutricionista, pós-graduada em Nutrição Funcional e CEO da CalcLab (plataforma que faz leitura diagnóstica de exames laboratoriais), Karla Lacerda.

A obesidade infantil é considerada um dos maiores problemas de saúde pública pediátrica, afetando cerca de 224 milhões de crianças em idade escolar em todo o mundo. As tendências pós-anos 2000 previram um mundo onde, pela primeira vez, haveria mais crianças e adolescentes obesos do que com baixo peso. Segundo a OMS sua prevalência é crescente e se atribuí a fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, genéticos, ambientais e comportamentais.

A luta

O desafio da atualidade é trazer atenção e conscientização da sociedade para esse alerta, promover diálogo e visibilidade sobre a relevância e o impacto dos hábitos de vida na saúde dos pequenos.

De acordo com a nutricionista, a obesidade é uma condição complexa, multifatorial e pró-inflamatória que está associada à uma combinação de fatores incluindo a exposição das crianças a um ambiente que estimula a ingestão de alimentos densamente calóricos, o sedentarismo, o excesso de telas e suas respostas biológicas a esse ambiente.

“Antigamente, a obesidade era um problema quase que exclusivamente de adultos, mas aos poucos foi se estendendo a faixas de idades cada vez menores, chegando hoje inclusive a acometer gravemente crianças menores de 5 anos”, relata Karla.

Ela ainda observa que a partir dessa informação é possível fazer uma previsão sobre os adultos do futuro, pois atualmente as doenças advindas da obesidade já atingem crianças cada vez mais novas apontando para perspectivas de adultos mais doentes. “Inclusive, a Sociedade Brasileira de Pediatria relembrou uma previsão sombria da OMS, que antevê que em 2030, o Brasil pode ser o quinto país com o maior número de crianças e adolescentes obesos. Se nada for feito, a possibilidade de reverter a projeção é de somente 2%”.

De acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil recente, 80% das crianças brasileiras de até 5 anos consomem alimentos ultraprocessados, como bolachas recheadas, o que também é observado entre bebês com menos de 2 anos.

Karla explica que um momento muito determinante para essa situação é a gestação, pois já é sabido que a nutrição inadequada da mãe e o excesso de peso já influenciam o perfil alimentar do bebê que ainda nem nasceu. “Outro problema identificado pelos especialistas é a desobservância e descumprimento da exclusividade do aleitamento materno até os seis meses de idade, inserindo a criança no ambiente de alimentação não saudável mesmo antes dela estar apta a comer e introduzindo industrializados e ultraprocessados já durante os primeiros meses de vida”.

A nutricionista ressalta a importância da família se atentar aos riscos dos alimentos ultraprocessados. Mesmo este modelo de alimento apresentar maior durabilidade, e atenderem a demanda alimentar fast food impulsionada pela falta de tempo da vida moderna, eles não devem fazer parte da rotina alimentar uma vez que apresentam elevadas quantidades de açúcar, sal, gordura trans e aditivos químicos que podem ser prejudiciais à saúde.

“Já está mais que comprovado que o consumo regular de ultraprocessados como sorvete, suco de caixinha, biscoitos recheados, macarrão instantâneo, achocolatados, bolos industrializados, embutidos, por exemplo, é uma das fortes razões do ganho de peso excessivo na infância e essa tendência de consumo é o reflexo do impacto do marketing e políticas permissivas sobre alimentação infantil”.

Na prática, explica Karla, para uma melhor visualização e entendimento dos pais uma criança que tem seu peso 25% maior que o desejável para sua idade, já apresenta sobrepeso, que é um primeiro alerta para a obesidade. “Quando o peso está 30% acima, ela já é considerada obesa. Ambas as condições podem favorecer a doenças como diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia, depressão, câncer e doenças cardiovasculares. O aumento de peso entre os pequenos hoje resultará em um aumento significativo no futuro nos custos da saúde”.

Há de se colocar na balança a pandemia da Covid-19 que ainda agravou a situação quando causou uma interrupção abrupta e significativa na rotina das crianças, aumentou o sedentarismo e teve impacto negativo na saúde mental e bem-estar, pois, sem espaço para gastar energia propiciou ambiente ideal para ter tempo de folga com os eletrônicos e suas estratégia agressivas de marketing.

Decisão

Diante desta situação faz-se, necessário pôr em prática ações que favoreçam a melhora desse quadro e pensando nisso o primeiro passo é identificar que a criança está acima do peso. “Essa é a maior dificuldade dos pais ou responsáveis, pois normalmente, identificam apenas quando as crianças já estão muito obesas ou já apresentam doenças advindas do excesso de peso. Os adultos tendem a não dar tanta atenção ao fato de a criança estar gordinha até que isso vire um problema grave de saúde”.

A nutricionista ainda instiga a família, como um todo, a mudar os hábitos pois a criança repete o que ela vê os adultos a sua volta fazendo, então se todos se sentam a mesa, sem telas, com alimentos saudáveis, se é um momento tranquilo e bom a criança replicará esse comportamento e desenvolverá uma relação melhor com a comida. Isso inclusive está no guia alimentar para a população brasileira, que orienta comer com atenção em ambiente tranquilo e sempre que possível em companhia.

“Além disso, criança precisa ter rotina. A rotina é uma segurança para a criança e permite que ela se desenvolva melhor num ambiente seguro, onde ela está ciente das atividades que vão acontecer no dia da família, incluindo seu momento de brincar, de estudar, de comer, de dormir, gerando menos tensão e estresse na hora de concluir as tarefas”.

Uma última dica de Karla é incluir a criança já desde bem pequena nas compras da feira e na produção da alimentação, dando oportunidade para que ela conheça e escolhas os vegetais, frutas, legumes, hortaliças que vão compor o cardápio da semana.

“As estratégias preventivas provaram ser a intervenção de saúde pública mais eficaz para conter esta pandemia. Uma abordagem multidisciplinar envolvendo modificação da dieta e implementação de um estilo de vida saudável, incluindo atividade física regular, minimizando o tempo de tela e intervenções comportamentais, foi considerada a mais benéfica na prevenção da obesidade”, finalizou.